A PRODUÇÃO DE VINHOS DO BRASIL - PARTE 2 - RIO GRANDE DO SUL
- José Rosa
- 8 de out. de 2018
- 8 min de leitura
COMO ESTÁ DISTRIBUIDA A PRODUÇÃO DE VINHOS NO BRASIL ?
Na sequencia da série de posts A PRODUÇÃO DE VINHOS DO BRASIL hoje vou mostrar o estado do Rio Grande do Sul .
A história da vitivinicultura do Rio Grande do Sul possui uma estreita relação com a colonização italiana estabelecida no estado, sobretudo na Serra Gaúcha e na região Central, a partir de 1875.
Condicionada pelo isolamento, em relação às principais regiões vitivinícolas do mundo, e pressionada pelas condições ambientais, por vezes inóspitas à videira, principalmente das cultivares de Vitis vinifera, esta vitivinicultura pioneira se manteve, até meados nos anos de 1970, sem investimentos externos significativos e produzindo, quase que exclusivamente, uvas e elaborando derivados a partir de variedades americanas e híbridas interespecíficas, embora algumas vinícolas tradicionais da Serra Gaúcha já se empenhassem na produção de uvas viníferas e elaboração de vinhos finos, sendo a Cia Vinícola Riograndense pioneira na elaboração de vinhos finos, com a marca Granja União, e as vinícolas George Aubert e Peterlongo, pioneiras na elaboração de espumantes.
Com o aporte de empreendimentos estrangeiros, materializados na implantação de vinícolas de grupos empresariais vitivinícolas internacionais, na segunda metade da década de 1970, inícia-se na região da Serra Gaúcha e na seqüência, na região da Campanha, a consolidação de um novo segmento na vitivinicultura gaúcha, voltado à produção de vinhos finos e espumantes.

Com a globalização da economia brasileira, a partir dos anos 1980, e pressionada pela forte concorrência internacional, esta nova vitivinicultura, estabelecida numa base tecnológica moderna, diferentemente daquela tradicional (parte da Serra Gaúcha e Região Central), vem concentrando seus investimentos em regiões que apresentam vantagens comparativas relativamente àquela tradicional, neste contexto destacam-se como regiões já consolidadas: a Serra do Sudeste e a Campanha e, em fase inicial, mas com grande potencial, a região dos Campos de Cima da Serra. Podemos destacar, ainda, o Alto Uruguai e Vale do Rio Tijucos.
Então vamos conhecer um pouco mais destas Regiões
Rio Grande do Sul
Alto Uruguai - RS

Zona produtora em processo de descobrimento Alto Uruguai testemunha um ciclo precoce de suas videiras, já a partir de janeiro. Com isso, evita a vindima durante o período de chuva, algo que sempre é celebrado quando se trata da produção de vinhos.
Assim pelo nome poderíamos pensar que estivesse próximo ao Uruguai, mas não, está bem distante no norte do Rio Grande do Sul quase fronteira com Santa Catarina tendo como epicentro a cidade de Três Palmeiras a apenas 75 kms de Chapecó (clique no mapa abaixo para ampliar). Na verdade, o nome da região advém de sua relação geográfica com o rio do mesmo nome e não com a país vizinho.
Altitude ao redor dos 650 metros, solo pedregoso e bem drenado, estações bem definidas, boa amplitude térmica, aparentemente estamos diante de uma região que pode gerar vinhos bastante interessantes e que tem como pioneira a Vinícola Antonio Dias que produz espumantes, e vinhos tranquilos á base de Cabernet Sauvignon, Tannat, Chardonnay, Ancelota, Pinot Noir, Merlot e Touriga Nacional sendo que alguns rótulos já estão no mercado e outros estão a caminho. São apenas cinco hectares de vinhas num projeto iniciado em 2004 e que agora começa a dar seus frutos, porém é também o inicio de uma região já que outros produtores começam a aparecer nem todos, no entanto, ainda pensando em vinhos finos.
Fontes:Ibravin
Região Central - RS

Estima-se a existência de cerca de 130 hectares de vinhedos na região, basicamente cultivados com as variedades falsa Goethe e Bordô, aproximadamente 50% de cada. Todo o vinho produzido em Jaguari, cujo volume estimado varia de 700 mil a 1 milhão de litros/ano, é comercializado na região.
A Região Central do Estado tem potencial para a produção de vinho que muita gente desconhece. São muitas vinícolas e adegas que buscam resgatar o gosto da bebida produzida pelos imigrantes italianos que chegaram ao Sul do país trazendo a maestria de fazer um bom vinho, mas com variedades vitiviníferas.
Com intuito em agregar qualidade e colocar a região no mapa nacional do enoturismo, foi criada a Associação de Vitivinicultores do Vale Central Gaúcho - Vinhos do Coração, em março deste ano. A entidade é fruto da união de proprietários e diretores de vinícolas e enólogos de Santa Maria e municípios vizinhos. São oito vinícolas participantes.
A região central do Rio Grande do Sul tem buscado atrair visitantes para conhecer sua produção vinícola. A secretária de Turismo de Santa Maria, Norma Martini Moesch, diz que existe um trabalho com o objetivo de abrir espaço de diálogo entre vitivinicultores, consumidores e proprietários de restaurante a fim de incentivar o turismo. “Temos uma produção significativa de vinhos, espumantes e sucos de uvas”, lembra o professor e vinicultor Carlos Eugênio Daudt. Na região, há um roteiro que tem apoio das prefeituras e agências.
Fontes: Ibravin
Campanha - RS

Ao mesmo tempo em que abrigam alguns dos mais antigos vinhedos do Brasil, as pequenas planícies e colinas da porção meridional do Rio Grande do Sul, já na fronteira com o Uruguai, vêm recebendo jovens e audaciosos investimentos. Essa concentração de extremos não tira da Campanha o prestígio, pois é uma grande aposta do setor no país. Os dias longos, com grande período de luminosidade para as plantas, e a grande variação de temperatura entre o dia e a noite beneficiam o cultivo das uvas.
A região da Campanha se situa no extremo sul do país, cobrindo áreas fronteiriças com Uruguai e também com a Argentina (Uruguaiana), possuindo por séculos uma vocação pecuarista.bMas a história fez com que novos ventos soprassem por lá. Assim, as pastagens outrora vistas em Uruguaiana, Santana do Livramento, Bagé, Candiota e Dom Pedrito por exemplo, hoje estão cobertas de vinhas.
São 11 municípios que se renderam a partir dos anos 90 aos bons preços pagos pelas uvas, que graças ao bom clima (apesar de ainda seguir o padrão subtropical úmido), exultavam qualidades, criando uma nova demanda. Levando-se em conta que a região toda tem aproximadamente o tamanho da Bélgica, se vê porque pode se expandir como um novo "paraíso vinícola"!
Apesar de historicamente contar com vinhedos implantados no fim do século XIX, a Campanha ficou viticulturalmente adormecida até 1973 quando Harold Olmos, pesquisador da Universidade da Califórnia Davis, identificou a região baseando-se em estudos de zoneamento vitícola, como de grande potencial e viabilidade para o plantio de uvas viníferas, o que culminou na implantação da Almadén em Santana do Livramento e do Projeto Santa Colina (grupo japonês), nos anos que se sucederam.
Hoje a paisagem cultural está bastante modificada em função desta orientação para a fruticultura, muito especialmente o cultivo de uvas, em expansão acelerada de acordo com dados do Cadastro Vitícola Brasileiro coordenado pela Embrapa desde 1995. Com uma demanda por uvas maduras e sadias em alta, produtores da Serra Gaúcha não só passaram a se abastecer como sonharam em instalar-se na Campanha. E foi o que aconteceu!
Foram chegando grandes empreendedores da Serra Gaúcha, como Miolo e Salton, cooperativas como a Nova Aliança e a local Vinoeste de Uruguaiana, além de projetos de profissionais da área como o Cordilheira de Santana e outros grandes empresários de ramos diversos e/ou apaixonados por vinhos tais como nos projetos da Dunamis e Guatambu. A estimativa de crescimento entre os anos de 1995 e 2012 foi de 166%, contando hoje 1300 hectares de videiras.
Os trabalhos de zoneamento permaneceram e através de trabalho sério e profissional da Embrapa, seguem permitindo a identificação de áreas e cultivares que se adaptam bem ao terroir, propiciando as bases para a máxima exploração do conceito de identidade dos vinhos resultantes.
De acordo com o perfil bioclimático, baseado no Anuário de Vinhos do Brasil, a Campanha só não é mais quente do que o Vale do São Francisco (que pertence a outra classificação climática, tropical seco). Aliás, a Campanha é a região de melhor índice de insolação e a menos úmida de toda a zona meridional do país, considerando as 5 grandes regiões vitivinícolas brasileiras de clima subtropical (Planalto Catarinense, Campos de Cima da Serra, Serra Gaúcha, Serra do Sudeste e a própria Campanha).
Como possui noites de caráter "temperado", com razoável frescor, ostenta boa amplitude térmica, fundamental para a qualidade das uvas e vinhos! Situada na verdadeira região dos Pampas, ainda goza de bons ventos, como o famoso Minuano.
Num resumo climatológico e comparando com regiões já bem consagradas, a Campanha Gaúcha poderia ser pareada a Jerez (em insolação e frescor noturno, sendo porém quase três vezes mais úmida). Possui índice de insolação superior a Napa Valley e Santiago do Chile por exemplo.
Os solos são graníticos e argilosos sendo que a alta proporção de argila em Bagé resulta em uvas mais aromáticas, de acordo com alguns especialistas (Evan Goldstein é minha referência). Além disso, áreas de textura arenosa permitem boa absorção de umidade, não criando obstáculos ao uso de tratores, porque secam relativamente rápido.
O desenho geográfico, predominantemente plano ao contrário da ondulada região do Vale dos Vinhedos, permite uma facilidade de mecanização da colheita, o que também torna a região bastante atraente em função da cada vez mais difícil mão-de-obra qualificada.
Destaques para algumas variedades, em especial a Tannat e a Cabernet Sauvignon entre as tintas e a Gewurztraminer e Viognier dentre as brancas. Do ponto de vista organoléptico, obedecendo ao perfil climático, os vinhos possuem um teor alcoólico natural superior aos da Serra Gaúcha, uma acidez menor porém suficiente e uma certa sapidez, relacionada àquela sensação de salinidade que alguns terroirs que dão vinhos minerais proporcionam.
Para finalizar, está previsto o projeto de implantação até o começo de 2016 da "Indicação de Procedência" e futuramente uma "Denominação de Origem" para vinhos finos e espumantes da região da Campanha! Em vista do desenvolvimento viticultural e vinícola que assistimos, o processo está em andamento.
Sem dúvida uma das novas e mais promissoras regiões para o vinho brasileiro, com exemplares de boa tipicidade, caráter frutado, equilibrados e gastronômicos. Em minha opinião puramente pessoal: o Brasil tem muito a ganhar se não tentar recriar vinhos de concursos de perfil "blockbusters". Nosso aparente ponto de equilíbrio pode não chamar tanto a atenção mas pode ser muito mais cativante à boa mesa, que sempre foi o lugar de honra dos bons vinhos!
Serra do Sudeste - RS

Descoberto na década de 1970, o potencial vitícola na Serra do Sudeste levou cerca de 30 anos para ganhar vulto. Foi a partir dos anos 2000, com a abertura de investimentos na região por parte de renomadas vinícolas da Serra Gaúcha, que o país voltou sua atenção para os vinhos elaborados com uvas de lá. Desde então, ela é apontada como uma das mais promissoras zonas produtoras brasileiras.
Curiosamente, a Serra do Sudeste abriga pouquíssimas cantinas. O relevo suavemente ondulado serve de sede quase que exclusivamente para vinhedos. A maior parte das uvas é transportada, geralmente à noite, até outras regiões do Rio Grande do Sul, onde é vinificada. No entanto, com o crescimento de sua importância no cenário enológico nacional e com o surgimento de empreendimentos locais voltados à produção de uva, essa situação deve sofrer mudança em um futuro breve.
A Serra do Sudeste fica próxima ao extremo sul do Rio Grande do Sul, entre as cidades de Pinheiro Machado e Encruzilhada do Sul.
Caracterizada pela conformação serrana ondulada e altitudes medianas, essa região tem temperaturas médias mais baixas e menor pluviosidade que a Serra Gaúcha, criando boas condições para uma vinicultura de qualidade.
Fontes: Ibravin
Serra Gaucha - RS

É a maior e mais importante região vinícola do Brasil, respondendo por cerca de 85% da produção nacional de vinhos. Aproveita-se do solo basáltico e do clima temperado, úmido, com noites amenas, para cultivar uvas com personalidade forte. A Serra Gaúcha abrange hoje as quatro áreas de produção enológica certificadas do país. O Vale dos Vinhedos, que ocupa 72,45 quilômetros quadrados entre as cidades de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, foi pioneiro ao buscar a Denominação de Origem (DO) para seus rótulos. Seguindo seus passos, os municípios de Pinto Bandeira e Monte Belo do Sul conquistaram a Indicação de Procedência (IP) para os rótulos lá elaborados, assim como a região dos Altos Montes, que abrange as cidades de Flores da Cunha e Nova Pádua.
Fontes: Ibravin
Campos de Cima da Serra - RS

Por muito tempo, a região dos Campos de Cima da Serra ficou à sombra da Serra Gaúcha. A predominância do cultivo de variedades híbridas e o clima frio e ventoso eram encarados como entraves para o desenvolvimento de grandes vinhedos. Atualmente, no entanto, o cenário é o oposto. A baixa temperatura e a incidência constante do vento foram transformadas em diferenciais, pois propiciam uma maturação mais longa e condições para que as uvas viníferas apresentem excelente sanidade. As iniciativas de empresários que se aventuraram em elaborar vinhos na região foram recompensadas com grandes rótulos, hoje nacionalmente conhecidos por sua qualidade.
Fontes: Ibravin
Vale do Rio Tijucas

A região é reconhecida pela tradição na produção de uvas e na elaboração/comercialização do vinho colonial e do suco de uva. A estrutura produtiva vitivinícola da região conta com aproximadamente 60ha de videiras no município de Nova Trento e 90 ha no município de Major Gercino, com predominância das cultivares de Vitis labrusca.
Fontes: Ibravin
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